domingo, 7 de agosto de 2011

Sacrifício - Parte Final

            Acordei assustado e confuso. Parecia que estava com uma grande ressaca. Olhei em volta e percebi que estava em uma pequena choupana, deitado em uma cama improvisada feita com uma esteira e uma colcha.

            Havia um senhor sentado ao meu lado. Ele tinha a pele bem morena e cabelos muito lisos. Por um instante tive medo de que ele fosse como os outros. Vi que ele estava cochilando e ia me levantar quando ele acordou.

            - Vá com calma, meu rapaz. Você precisa descansar. – Ele disse, com uma voz tranquila.

            - Quem é você? Onde eu estou? O que aconteceu? – Joguei todas as perguntas de uma vez. Estava ansioso para saber o que tinha acontecido.

Àquela hora já estava imaginando que tudo não havia passado de um sonho. Talvez eu tivesse cochilado no volante e sofrido algum acidente.

- Você é um rapaz de muita sorte. Ninguém consegue sair do lugar em que você estava. – Ele disse, com calma.

Isso reforçou a idéia do acidente. Talvez tivesse sido grave. Ele continuou:

- Ao menos eu nunca vi isso acontecer, até hoje. – Ele parecia impressionado. – Já ouvi algumas histórias, mas daí a vê-las acontecer...

- Do que o senhor está falando? O acidente foi tão grave assim?

- De que acidente você está falando, rapaz?

- Do meu acidente. Foi isso que aconteceu, não foi? Eu sofri um acidente, por isso estou aqui, não é?

- Eu não diria que foi um acidente...

- Eu não estou entendendo. Se eu não sofri um acidente, como eu vim parar aqui? O que aconteceu?

- Há alguns anos atrás, havia um pequeno hotel na estrada onde você estava passando. Certa noite, quando alguns descendentes de índios estavam fazendo uma festa em homenagem a um de seus deuses, eles permitiram que homens brancos participassem, mas eles não estavam ali porque acreditavam naquelas coisas, só queriam beber e se divertir. Os índios começaram a se incomodar com aquilo. Houve uma briga e durante essa briga começou um incêndio. Ninguém sabe como ele começou, mas todos que estavam lá morreram.

- Não entendo o que essa história tem a ver com o que aconteceu comigo.

- Depois disso, começaram a acontecer coisas estranhas naquele lugar. Pessoas diziam ter visto o hotel, onde não existia mais do que escombros. Algumas pessoas sumiram ao passar por aquela região, outras apareceram mortas, como se tivessem sido comidas por feras. Dizem que eles foram amaldiçoados. Que retornam dos mortos para se alimentarem dos vivos uma noite a cada ano. E que algumas vezes levam a alma de alguém junto com eles. Acho que é o que iriam fazer com você, pois se quisessem te matar você não estaria mais aqui. – Se eu não tivesse visto tudo com meus próprios olhos, não teria acreditado em uma palavra do que ele estava dizendo.

            - Mas como eu consegui sair de lá?

            - Eles só podem levar uma alma de cada vez.

            Ele apontou para o outro cômodo. Foi então que eu a vi. Ela estava deitada sobre uma cama de campanha muito velha. Parecia que estava dormindo. Seus cabelos acobreados estavam mais cacheados do que nunca. Fui me aproximando devagar, não podia acreditar no que ele estava me dizendo a Carol estava ali, não podia estar morta, muito menos por minha causa. Percebi que havia um bilhete com meu nome em suas mãos.

           Gabi, você foi, e sempre será, meu único e verdadeiro amor. Não sofra por mim, pois não iria sobreviver sem você ao meu lado. Espero que agora você consiga enxergar o quanto eu te amo. Seja feliz.

Carol.

            Eu não tive palavras. Queria gritar, mas nenhum som saia da minha boca. Como eu fui um idiota. Se não fosse por meu ciúme, nada disso teria acontecido. Eu nunca teria pegado aquela estrada. Era tudo minha culpa. Saí daquele lugar sem dizer uma palavra àquele homem. Ele respeitou meu silêncio e me deixou ir.

*****

            Já faz um ano que isso aconteceu, mas parece que não passou nem um dia. A dor não diminuiu. Mas as palavras daquele homem não saíram da minha cabeça: eles retornam dos mortos uma vez a cada ano. Nem que eu leve a vida inteira, vou encontrar aquele hotel novamente. Minha busca começa hoje, só não sei quando vai terminar. Talvez eu tenha sorte, afinal está caindo uma tempestade daquelas...

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