domingo, 3 de julho de 2011

DESEJO

Em dez anos de trabalho eu nunca havia passado por um período tão sem idéias. O prazo que a editora me deu estava terminando e eu precisava terminar de escrever meu novo livro, mas estava sem nenhuma inspiração. Há dias que eu não conseguia terminar sequer uma página. Então, decidi passar aquele final de semana na minha chácara em Petrópolis. Precisava relaxar um pouco. Além disso, eu sempre ficava inspirada naquela casa.

Não posso deixar de admitir que eu também não agüentava mais ouvir o meu editor repetindo: “Amanda, o prazo já está acabando. Quando você vai me entregar seu original.” Ficava me perguntando se depois de tanto tempo no ramo ele não deveria saber que um escritor precisa de liberdade para criar, quanto maior a pressão, maior a dificuldade de deixar a mente vagar. Mas eu sabia que, no fundo, até que ele tinha razão em estar preocupado.

Sempre adorei escrever e faço isso sem a menor dificuldade. Criar histórias sempre foi o meu forte, mas não estava conseguindo terminar aquela. Pensei que talvez fosse por estar escrevendo sobre algo totalmente novo para mim. Nunca tinha escrito uma história de terrror antes. E também nunca fui muito de me assustar com essas coisas. Nem mesmo quando era criança eu acreditava em fantasmas ou monstros. Mas a editora insistiu que queria algo novo, diferente do que eu já havia escrito, e que esse assunto estava na moda. Coisas desse tipo.

            Enfim, como não conseguia ter uma idéia que valesse a pena, pensei que um fim de semana em uma casa vazia e longe da civilização pudesse me ajudar. A casa era bem isolada no meio da Mata Atlântica. Torcia para que o clima do local pudesse me inspirar. Pensei que talvez um fantasma pudesse aparecer por lá. Isso, com certeza me inspiraria bastante.

            Além do mais, era uma casa bem antiga, do início do século XVIII. E a mobília também era da época. Ela já está na família há muitas gerações. Lembro-me de ouvir diversas histórias sobre vultos e fantasmas na minha infância. Quem sabe passando alguns dias por lá uma dessas histórias poderiam me servir de inspiração.

            Na sexta-feira arrumei minha mala com algumas peças de roupa e peguei a estrada por volta das sete horas da noite. Sempre preferi viajar a noite. Acho mais tranqüilo. E, para minha surpresa, o transito estava ótimo. Acredito que a chuva que estava ameaçando cair tenha assustado os que pretendiam passar o final de semana na Serra. Para mim, seria até bom se chovesse. O cenário seria ainda mais perfeito. Bem assustador.

            Cheguei a minha chácara por volta das oito e meia. Como não disse a ninguém onde estaria, tinha certeza de que o telefone não iria me incomodar. Também havia dispensado o casal de caseiros, não queria que ninguém me atrapalhasse. Então, quando cheguei, a casa estava totalmente vazia. E escura, eles haviam se esquecido de deixar alguma luz acesa.

            Perfeito. Pensei. O cenário não poderia ser mais assustador.

           Continua...

2 comentários:

  1. Já estou presa a história que você está contando,
    não demore a prosseguir que sou muito curiosa.
    Sucesso!!
    beijos

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